O CHEIRO DO RALO

A UM PASSO DA LOUCURA

POR   TIAGO SANTOS

 

        Quero falar de um filme, não muito recente, que acabo de assistir e acho que permite pensar no homem urbano. O filme é " O Cheiro do Ralo", estrelando Selton Melo, como Lourenço.

Quando o filme começa o cheiro do ralo já incomoda nosso protagonista, homem comum  às  vésperas do casamento, "os convites estão na gráfica" - repete incessantemente a noiva - quando é abandonada por Lourenço.

Ele é  o dono de um tipo de casa de penhor, compra coisas, aí já podemos pensar um pouco. Estamos na época em que tudo tem o seu preço e as necessidades não permitem os objetos de devoção quando as pendências financeiras chamam-nos, tudo tem o seu valor, claro, provavelmente assimétrico ao emocional. A personagem zomba das historias passionais de seus clientes com os objetos.

O longa tem uma sucessão de cenas do protagonista recebendo clientes. A cada nova pessoa que entra, ele explica: " O cheiro que voce está sentindo vem do ralo. Não é meu"; a necessidade de explicar isso tem algo de aparente e cômico, mas também velado e psicológico, o cheiro do ralo funciona como um evento pontual e epifânico, revelatório. O medo de ser identificado com o ralo é fruto de uma já identificação inconsciente, é uma metáfora para os desejos reprimidos emergir.

Todos nós, citadinos que somos, temos os nossos desejos secretos que recalcamos pela impossibilidade de sua articulação com a civilização, esta tem as suas próprias necessidades. Devemos rejeitar os desejos pessoais em prol do todo, é o que torna a vida em comunidade possível e pode gerar um perene mal estar no homem civilizado. A personagem primeiro nega, depois tenta tapar essa porta do "inferno" escondendo assim o cheiro, depois o abre, então uma liberação das taras reprimidas, as portas do inferno - o inconsciente - abertas.

O estado complexo de Lourenço o leva a um segundo momento, importantíssimo, a compra de um olho de vidro que começa a fantasiar  ter pertencido  a seu pai que teria lutado na  Segunda Guerra e que mostra a todo mundo. No final do filme, baleado, arrasta-se em direção do ralo e morre junto a ele.

"De médico e de louco todos tem um pouco" diz a máxima, a cidade é o lugar por excelência da frustração nossa de cada dia, das convenções sociais, e o que dizer, então, da nossa cidade fronteiriça, esse não lugar (entre metrópole e interior), cidade cama onde não sonhamos? Vivemos o nosso equilibrio conseguido a muito custo, sempre a um passo de se sobressair ao espaço dos desejos.

 

NOSSO COMENTARIO

O autor deste artigo, é residente de Francisco Morato, onde o IDH é zero, a miséria grassa por todos os cantos, o que depende de verbas estaduais recebe, mas o que é devido de verbas federais não é repassado.

O cheiro do ralo. Todos nós ficamos impregnados quando deixamos de lado a nossa obrigação de votar conscientemente, mesmo que o candidato chegue a nós com cheiro de ralo, dizendo que o cheiro não é dele. É nossa vez. O que sofremos nesta ano de 2010, não fosse Deus teríamos caídos cheirando o ralo.

Somos fortes. Nosso voto tem valor, e não vamos permitir que o mesmo vá para o ralo. Chega de perseguição, chega de violação de direitos constitucionais adquiridos em 1998, em nossa Carta Magna. O seu voto é deveras importante. Comece a se envolver com quem não tem cheiro de ralo. É hora de mudar